[ARTIGO] O uso da Ventosaterapia no Mundo Moderno
O uso da Ventosaterapia no Mundo
Moderno
Silvia de Paula Ungarelli - Acupunturiatra ssociada ao
Colégio Médico de Acupuntura de Goiás
A ventosaterapia
é uma técnica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que surgiu há pelo menos 2
mil anos. Conhecida como método do chifre (em chinês: Jiaofa), pois no período Neolítico da China se utilizavam chifres de
diversos animais aquecidos que, aplicados sobre a pele, levavam a formação de
vácuo, a técnica era indicada principalmente no tratamento de dores e para
drenagem de pus. O primeiro registro escrito a respeito da ventosaia na
China foi do médico e alquimista taoísta Ge Hong (281-341 d.C.), com a
indicação terapêutica de drenar lesões purulentas. Apesar de muito associada à MTC,
diversas culturas conheciam e utilizavam a ventosaterapia, que é citada no Papiro
de Ebers (escrito no Egito por volta de 1550 a.C.) e nos textos de Hipócrates (460-370
a.C.), além de ter sido defendida por Cláudio Galeno (129-210 d.C.), médico do Império
Romano, cujos ensinamentos foram aceitos como dogma por 1500 anos. Com o passar
do tempo, a técnica foi sendo aperfeiçoada pela MTC e a aplicação passou a ser
feita com diversos tipos de ventosas, como as de vidro, acrílico, bambu e
plástico, e suas indicações foram ampliadas. As ventosas são cúpulas das quais
se retira o ar, gerando uma pressão negativa local (vácuo), que pode ser obtida
através da aplicação de fogo no interior do copo ou através de uma bomba de
sucção.
Sob a óptica
da MTC, a ventosaterapia tem ação específica em pontos de acupuntura e nos Meridianos,
propiciando a restauração do equilíbrio energético do organismo. A ventosa tem
a capacidade de exteriorizar o Qi e o Xue estagnados, de influenciar os Zang Fu
ao agir sobre pontos localizados nos Canais de Energia, além de “conduzir para
fora” fatores patogênicos tais como vento (combinado ou não com calor ou frio)
e tratar síndromes de repleção.
Sob o ponto de
vista da Medicina Ocidental, o mecanismo de ação da ventosaterapia ainda não
está totalmente elucidado, mas acredita-se que a pressão negativa no interior
da ventosa “suga” os tecidos moles subjacentes (pele, músculos, vasos
sanguíneos, vasos linfáticos, nervos), promovendo uma compressão e “irritação” locais
e levando ao fenômeno de vasodilatação reflexa, uma tentativa de o organismo
sanar o “efeito irritativo” criado pela presença da ventosa. O aumento da microcirculação
sanguínea local incrementa as trocas gasosas entre os tecidos e o sangue, com
consequente eliminação de toxinas, diminui o processo inflamatório regional e viabiliza
o relaxamento das bandas musculares existentes, o que reduz o input nociceptivo.
Além disso, as ventosas atuam também sobre o sistema linfático, beneficiando o
sistema imunológico e moderando o acúmulo de líquidos e toxinas. Alguns estudos
apontam ainda que, quando a ventosa é aplicada sobre pontos de acupuntura ou
sobre áreas específicas do corpo, estimula mecanicamente as fibras nervosas
cutâneas regionais, culminado com a liberação de neuromediadores endógenos que
promovem ações analgésicas e sensação de bem-estar (“reação neuroepidérmica”).
Para
realização da ventosaterapia, o paciente deve ser posicionado de maneira
confortável, em decúbito, e deve ser orientado sobre a técnica e sobre seus
resultados, incluindo a possibilidade de aparecimento de hematomas nos locais
onde as ventosas são aplicadas. Em geral, a ventosaterapia é realizada em áreas
do corpo onde os músculos são mais numerosos ou maiores, tais como dorso e
abdome, mas pode ser utilizada também nos braços e nas pernas. Uma vez aplicada
a ventosa, deve-se deixá-la in situ (até
que haja congestão local – cor vermelha até violeta) ou deve-se realizar
movimentos de deslizamento, seja com o intuito de promover o relaxamento
muscular de uma região mais extensa, como o dorso, ou com o intuito de melhorar
o fluxo energético ao longo de um Meridiano, quando o deslizamento é realizado
no sentido de circulação dos Canais de Energia. O tempo de aplicação da ventosa
fixa pode variar de 5 a 15 minutos, lembrando que esse período deve ser menor
nos dias muito quentes, nas crianças e nos indivíduos com padrões de desarmonia
do tipo deficiência ou esgotamento.
A
ventosaterapia pode ser classificada da seguinte forma:
- Quanto ao
tipo de ventosa utilizada: argila, borracha, bambu, vidro, plástico, acrílico.
- Quanto ao
grau de sucção:
* Fraca: para efeito
tonificante de Qi e Xue em pacientes com estado energético deficiente;
* Moderada: para
efeito tonificante em pacientes com bom estado energético e tratamento de
crianças a partir dos 7 anos;
* Forte: para efeito dispersante (quadros de
repleção, de dor aguda) em pacientes com constituição forte e bom estado
energético.
- Quanto à
técnica:
* Ventosaterapia
seca ou fixa: efeito tonificante, se tempo de sucção curto, ou efeito
dispersante, se tempo de sucção acima de 5 minutos;
* Massagem com
ventosa ou ventosa móvel: aplica-se óleo medicinal ou óleo de ervas sobre a
pele antes do procedimento, propiciando efeito dispersante ou tonificante, a
depender do grau de sucção e da força utilizada;
* Ventosaterapia
sangrenta: tratar estados de repleção, síndromes de calor, estase de Xue,
estagnação de Qi;
* Ventosa
sobre agulha, com ou sem moxabustão associada: efeito tonificante.
As indicações
da Ventosaterapia incluem a abordagem terapêutica de diversas patologias,
dentre elas:
- Tratamento
de doenças álgicas do aparelho locomotor, tais como cervicalgias, lombalgias, entorses,
síndrome dolorosa miofascial, lesões atléticas agudas ou crônicas;
- Tratamento
de cefaleias, de neuralgias e de parestesias locais;
- Tratamento
de distúrbios gastrointestinais e da dismenorreia;
- Tratamento
de doenças das vias respiratórias, tais como resfriados, bronquite, asma;
- Tratamento
de edemas localizados (linfedema, insuficiência vascular);
- Cuidados pós-operatórios
(melhora da dor e de edemas localizados);
- Afecções
dermatológicas, tais como celulite e gordura localizada;
- Transtornos
de ansiedade generalizada.
Apesar de ser
uma técnica segura, a ventosaterapia deve ser executada por médico que tenha
conhecimento dos cuidados e das contraindicações que envolvem sua utilização.
As contraindicações
incluem:
- Doenças
agudas com risco iminente de morte ou com indicação de intervenção cirúrgica de
urgência;
- Pacientes
com febre alta, convulsões, cólicas intensas, distúrbios da coagulação e
fraturas;
- Não aplicar
em áreas de pele com lesões de qualquer natureza, áreas onde o músculo é fino
ou a pele não é plana por causa dos ângulos e depressões ósseas e sobre áreas
com varizes;
- Não aplicar
no abdome gravídico e na região lombossacra da gestante (nesse último caso,
exceção feita quando o intuito é o estímulo do trabalho de parto);
- Não realizar
ventosaterapia sangrenta em indivíduos com padrões de deficiência graves.
Os cuidados a
serem tomados são os seguintes:
- Atenção
especial em pacientes com pele sensível, principalmente crianças, indivíduos em
uso de dose altas de corticoide ou portadores de Diabetes Mellitus;
- As ventosas
devem ter a superfície da boca lisa, o que previne ocorrência de lesões na pele
e facilita mobilização dos copos, e devem ser deixadas no local somente até
haver congestão, a fim de se evitar o aparecimento de bolhas ou lesões do tipo
queimadura, que surgem quando o tempo de permanência da cúpula se estende além
do permitido ou o grau de sucção é excessivo;
- Deve-se ter
cautela quanto à aplicação de ventosas de fogo, em virtude do risco de
acidentes e da intensificação do uso de álcool para higienizar mãos e objetos, após
o início da pandemia da COVID-19.
Diante do
exposto, conclui-se que, como parte da MTC, a ventosaterapia é uma técnica
milenar que proporciona inúmeros benefícios ao paciente, com poucos efeitos secundários
indejesados, desde que realizada por médico capacitado.
Referência
Bibliográfica
1 - Y. Yamamura, Acupuntura
tradicional: A Arte de Inserir. Editora Roca, 2001.
2 - A. Cunha, Ventosaterapia
Tratamento e Prática. Ícone Editora, 2007.
3 - M. Nakano and Y. Yamamura,
Livro Dourado da Acupuntura em Dermatologia e Estética. Center AO, 2010.
4 - C. Focks and U. März, Guia
Prático de Acupuntura. Editora Manole, 2018.
5 - A. Höhl and A. Tsai and E.
Cruz and L. Curuci and S. Ungarelli, Acupunturiatria em Questões. Argus Editora,
2021.
O uso da Ventosaterapia no Mundo
Moderno
Silvia de Paula Ungarelli - Acupunturiatra ssociada ao
Colégio Médico de Acupuntura de Goiás
A ventosaterapia
é uma técnica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que surgiu há pelo menos 2
mil anos. Conhecida como método do chifre (em chinês: Jiaofa), pois no período Neolítico da China se utilizavam chifres de
diversos animais aquecidos que, aplicados sobre a pele, levavam a formação de
vácuo, a técnica era indicada principalmente no tratamento de dores e para
drenagem de pus. O primeiro registro escrito a respeito da ventosaia na
China foi do médico e alquimista taoísta Ge Hong (281-341 d.C.), com a
indicação terapêutica de drenar lesões purulentas. Apesar de muito associada à MTC,
diversas culturas conheciam e utilizavam a ventosaterapia, que é citada no Papiro
de Ebers (escrito no Egito por volta de 1550 a.C.) e nos textos de Hipócrates (460-370
a.C.), além de ter sido defendida por Cláudio Galeno (129-210 d.C.), médico do Império
Romano, cujos ensinamentos foram aceitos como dogma por 1500 anos. Com o passar
do tempo, a técnica foi sendo aperfeiçoada pela MTC e a aplicação passou a ser
feita com diversos tipos de ventosas, como as de vidro, acrílico, bambu e
plástico, e suas indicações foram ampliadas. As ventosas são cúpulas das quais
se retira o ar, gerando uma pressão negativa local (vácuo), que pode ser obtida
através da aplicação de fogo no interior do copo ou através de uma bomba de
sucção.
Sob a óptica
da MTC, a ventosaterapia tem ação específica em pontos de acupuntura e nos Meridianos,
propiciando a restauração do equilíbrio energético do organismo. A ventosa tem
a capacidade de exteriorizar o Qi e o Xue estagnados, de influenciar os Zang Fu
ao agir sobre pontos localizados nos Canais de Energia, além de “conduzir para
fora” fatores patogênicos tais como vento (combinado ou não com calor ou frio)
e tratar síndromes de repleção.
Sob o ponto de
vista da Medicina Ocidental, o mecanismo de ação da ventosaterapia ainda não
está totalmente elucidado, mas acredita-se que a pressão negativa no interior
da ventosa “suga” os tecidos moles subjacentes (pele, músculos, vasos
sanguíneos, vasos linfáticos, nervos), promovendo uma compressão e “irritação” locais
e levando ao fenômeno de vasodilatação reflexa, uma tentativa de o organismo
sanar o “efeito irritativo” criado pela presença da ventosa. O aumento da microcirculação
sanguínea local incrementa as trocas gasosas entre os tecidos e o sangue, com
consequente eliminação de toxinas, diminui o processo inflamatório regional e viabiliza
o relaxamento das bandas musculares existentes, o que reduz o input nociceptivo.
Além disso, as ventosas atuam também sobre o sistema linfático, beneficiando o
sistema imunológico e moderando o acúmulo de líquidos e toxinas. Alguns estudos
apontam ainda que, quando a ventosa é aplicada sobre pontos de acupuntura ou
sobre áreas específicas do corpo, estimula mecanicamente as fibras nervosas
cutâneas regionais, culminado com a liberação de neuromediadores endógenos que
promovem ações analgésicas e sensação de bem-estar (“reação neuroepidérmica”).
Para
realização da ventosaterapia, o paciente deve ser posicionado de maneira
confortável, em decúbito, e deve ser orientado sobre a técnica e sobre seus
resultados, incluindo a possibilidade de aparecimento de hematomas nos locais
onde as ventosas são aplicadas. Em geral, a ventosaterapia é realizada em áreas
do corpo onde os músculos são mais numerosos ou maiores, tais como dorso e
abdome, mas pode ser utilizada também nos braços e nas pernas. Uma vez aplicada
a ventosa, deve-se deixá-la in situ (até
que haja congestão local – cor vermelha até violeta) ou deve-se realizar
movimentos de deslizamento, seja com o intuito de promover o relaxamento
muscular de uma região mais extensa, como o dorso, ou com o intuito de melhorar
o fluxo energético ao longo de um Meridiano, quando o deslizamento é realizado
no sentido de circulação dos Canais de Energia. O tempo de aplicação da ventosa
fixa pode variar de 5 a 15 minutos, lembrando que esse período deve ser menor
nos dias muito quentes, nas crianças e nos indivíduos com padrões de desarmonia
do tipo deficiência ou esgotamento.
A
ventosaterapia pode ser classificada da seguinte forma:
- Quanto ao
tipo de ventosa utilizada: argila, borracha, bambu, vidro, plástico, acrílico.
- Quanto ao
grau de sucção:
* Fraca: para efeito
tonificante de Qi e Xue em pacientes com estado energético deficiente;
* Moderada: para
efeito tonificante em pacientes com bom estado energético e tratamento de
crianças a partir dos 7 anos;
* Forte: para efeito dispersante (quadros de
repleção, de dor aguda) em pacientes com constituição forte e bom estado
energético.
- Quanto à
técnica:
* Ventosaterapia
seca ou fixa: efeito tonificante, se tempo de sucção curto, ou efeito
dispersante, se tempo de sucção acima de 5 minutos;
* Massagem com
ventosa ou ventosa móvel: aplica-se óleo medicinal ou óleo de ervas sobre a
pele antes do procedimento, propiciando efeito dispersante ou tonificante, a
depender do grau de sucção e da força utilizada;
* Ventosaterapia
sangrenta: tratar estados de repleção, síndromes de calor, estase de Xue,
estagnação de Qi;
* Ventosa
sobre agulha, com ou sem moxabustão associada: efeito tonificante.
As indicações
da Ventosaterapia incluem a abordagem terapêutica de diversas patologias,
dentre elas:
- Tratamento
de doenças álgicas do aparelho locomotor, tais como cervicalgias, lombalgias, entorses,
síndrome dolorosa miofascial, lesões atléticas agudas ou crônicas;
- Tratamento
de cefaleias, de neuralgias e de parestesias locais;
- Tratamento
de distúrbios gastrointestinais e da dismenorreia;
- Tratamento
de doenças das vias respiratórias, tais como resfriados, bronquite, asma;
- Tratamento
de edemas localizados (linfedema, insuficiência vascular);
- Cuidados pós-operatórios
(melhora da dor e de edemas localizados);
- Afecções
dermatológicas, tais como celulite e gordura localizada;
- Transtornos
de ansiedade generalizada.
Apesar de ser
uma técnica segura, a ventosaterapia deve ser executada por médico que tenha
conhecimento dos cuidados e das contraindicações que envolvem sua utilização.
As contraindicações
incluem:
- Doenças
agudas com risco iminente de morte ou com indicação de intervenção cirúrgica de
urgência;
- Pacientes
com febre alta, convulsões, cólicas intensas, distúrbios da coagulação e
fraturas;
- Não aplicar
em áreas de pele com lesões de qualquer natureza, áreas onde o músculo é fino
ou a pele não é plana por causa dos ângulos e depressões ósseas e sobre áreas
com varizes;
- Não aplicar
no abdome gravídico e na região lombossacra da gestante (nesse último caso,
exceção feita quando o intuito é o estímulo do trabalho de parto);
- Não realizar
ventosaterapia sangrenta em indivíduos com padrões de deficiência graves.
Os cuidados a
serem tomados são os seguintes:
- Atenção
especial em pacientes com pele sensível, principalmente crianças, indivíduos em
uso de dose altas de corticoide ou portadores de Diabetes Mellitus;
- As ventosas
devem ter a superfície da boca lisa, o que previne ocorrência de lesões na pele
e facilita mobilização dos copos, e devem ser deixadas no local somente até
haver congestão, a fim de se evitar o aparecimento de bolhas ou lesões do tipo
queimadura, que surgem quando o tempo de permanência da cúpula se estende além
do permitido ou o grau de sucção é excessivo;
- Deve-se ter
cautela quanto à aplicação de ventosas de fogo, em virtude do risco de
acidentes e da intensificação do uso de álcool para higienizar mãos e objetos, após
o início da pandemia da COVID-19.
Diante do
exposto, conclui-se que, como parte da MTC, a ventosaterapia é uma técnica
milenar que proporciona inúmeros benefícios ao paciente, com poucos efeitos secundários
indejesados, desde que realizada por médico capacitado.
Referência
Bibliográfica
1 - Y. Yamamura, Acupuntura
tradicional: A Arte de Inserir. Editora Roca, 2001.
2 - A. Cunha, Ventosaterapia
Tratamento e Prática. Ícone Editora, 2007.
3 - M. Nakano and Y. Yamamura,
Livro Dourado da Acupuntura em Dermatologia e Estética. Center AO, 2010.
4 - C. Focks and U. März, Guia
Prático de Acupuntura. Editora Manole, 2018.
5 - A. Höhl and A. Tsai and E.
Cruz and L. Curuci and S. Ungarelli, Acupunturiatria em Questões. Argus Editora,
2021.
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